Mosteiro de S.
Bernardo
A instituição foi fundada em 1518 pelo bispo da diocese da
Guarda, D. Jorge de Melo, com o fim de albergar "donzelas sem dote".
As obras do actual convento, entretanto, só se iniciariam em
1526, após um Alvará Régio de João III confirmar a doação, por parte do
concelho de Portalegre, do sítio da Fontedeira, e prolongar-se-iam por todo o
século XVI. Não obstante, em 1530 já estavam concluídas a igreja e algumas
dependências, como o refeitório, a sala do capítulo e o dormitório. A
consagração da igreja só teria lugar em 16 de Março de 1572, quando era bispo
de Portalegre D. André de Noronha.
As diversas campanhas de obra que tiveram lugar em
diferentes épocas deixaram traços de vários estilos no convento, desde o
Manuelino e Renascentista do século XVI, ao Barroco do século XVIII. Datam do
século XVI o púlpito em mármore de Estremoz, decorado com motivos grotescos, o
portal principal e o túmulo do fundador, D. Jorge de Melo. Estas obras de
grande erudição foram erigidas entre 1538 e 1540 e são usualmente atribuídas a
Nicolau de Chanterenne.
A fachada original foi substituída por um portal alpendrado,
provavelmente no século XVII.
No século XVIII foram feitas novas obras de monta na igreja.
Datam desta época diversos painéis de azulejos (1739) nas capelas laterais e a
capela-mor, no transepto, na nave, no nártex, e ainda no alpendre exterior. A
maior parte deles apresentam cenas da vida de São Bernardo.
O convento foi extinto em 1878, nele sendo instalado no ano
seguinte o seminário diocesano.
Em 1911 foi convertido em quartel. Posteriormente, entre
1932 e 1961 esteve instalado na igreja o Museu Municipal de Portalegre.
Após ter sido quartel da Polícia do Exército, a Escola
Prática da Guarda Nacional Republicana foi instalada no convento no início da
década de 1980, situação que ainda se mantém.
A sua igreja e os dois claustros a ela anexos encontram-se
classificados como Monumento Nacional desde 1910.
Características
A igreja apresenta planta em cruz, dividida em três naves. A
cabeceira é composta por uma capela-mor, cujo altar já não existe actualmente,
ladeada por duas capelas. Esta estrutura interior mostra-se ainda devedora das
linhas de "raiz tardo-medieval muito portalegrense”
O portal principal apresenta uma decoração de elevada
qualidade escultórica, de linguagem erudita povoada de motivos grotescos, com
guerreiros, mascarões, seres híbridos, onde são evidentes diversas referências
ao fundador do convento, nomeadamente o relevo com o seu brasão que está no
frontão do portal.
Túmulo de
D. Jorge de Melo
Este túmulo é usualmente apontado como o maior e mais
sumptuoso de Portugal e o símbolo de afirmação pessoal de D. Jorge de Melo como
mecenas humanista. Acerca dele, teria comentado Filipe II de Espanha (I de
Portugal) durante a sua visita a Portalegre: «grande gaiola para tão pequeno
pássaro».
Tem 7 metros de largura e 12 de altura. Foi todo feito em
mármore de Estremoz ainda em vida de D. Jorge, entre 1535 e 1540. Apresenta
decorações esculpidas de grande qualidade, nomeadamente motivos grotescos , as
representações de Santa Ana e São Joaquim, os bustos de São Pedro e São Paulo,
e a figura jacente de D. Jorge de Melo.
O túmulo é fonte de controvérsia, seja quanto à autoria,
seja quanto à leitura dos elaborados elementos iconográficos. A autoria é
normalmente atribuída a Nicolau Chanterenne, nomeadamente pelas semelhanças com
obras deste artista, como seja na Igreja da Graça, em Évora, construída na
mesma altura do túmulo. No entanto, a enigmática sigla com as letras A.I.O.
esculpida na base, que não corresponde a nenhum escultor conhecido da época, e
a coexistência de duas temáticas diferentes (a alegoria da Morte e o culto
mariano), que apresentam dissemelhanças na forma como são tratadas
escultoricamente, serve de base à discordância de alguns estudiosos. Foi
avançada a hipótese da obra ter sido executada não por um, mas por dois
mestres, o que explicaria a existência de duas temáticas.